Arquivo para a Tag ‘presença

Garrafa 536 – Testemunha silenciosa   Leave a comment

O alarme está ajustado para despertar às seis horas, mas normalmente já estou acordado um pouco antes disso. Tem sido assim pelo menos desde o início dos anos sessenta.

Costumava despertar às cinco e meia, com o céu ainda escuro, para entrar antes das sete no Colégio Militar. Nos anos setenta, o toque de alvorada do corneteiro soava na Escola Naval às seis, mas o som das gaivotas da Ilha de Villegagnon já entrava pela janela aberta bem antes disso, junto com a brisa impregnada de maresia da Baía de Guanabara. Depois de formado, essa se tornou a rotina para chegar ao trabalho antes das oito, deixando, antes, as meninas no colégio. E isso se entendeu até o início de 2002, ou seja, por mais de quarenta anos.

Após a transferência para a reserva, iniciei nova carreira com outras atividades profissionais e maior flexibilidade com relação a horários, que ficam agora a meu quase exclusivo critério. Mas o hábito de acordar cedo se mantém, apesar de não ser mais tão necessário. Agora é uma escolha do corpo!

Lembro-me de, na infância, precisar de pelo menos dez horas de sono por dia. E esse número foi sendo reduzido para nove na adolescência, e para oito na juventude e início da vida adulta. A partir dos anos 80, seis horas já eram suficientes. Hoje, dificilmente adormeço antes de uma da manhã. Fico bem disposto com apenas cinco horas de sono por noite. Indicaçao da inexorável aproximação da velhice, dizem. Parece que ficamos com mais sede de vida, ao pressentirmos o seu fim, e queremos dormir menos para viver mais. Quem sabe?

Quando estou em casa, ao levantar da cama, meus primeiros passos costumam me levar direto para a varanda, que aponta para o sul da paisagem da Barra da Tijuca. Fico de olho no céu em busca de nuvens cor de rosa ou acinzentadas, ansioso pelo contato com as primeiras luzes da manhã que aparecem do lado esquerdo, a leste, na direção de onde fica a Praia de São Conrado. E procuro pistas sobre a intensidade e direção do vento, no movimento das folhas dos coqueiros, amendoeiras e mangueiras da pracinha, como se ainda estivesse no convés de algumas das embarcações que tripulei ou comandei. As gaivotas silenciosas ficam muito alto no céu matinal e a algazarra da passarinhada é uma composição do canto de sabiás, cambaxirras e de muitos bem-te-vis. Sua plumagem em tons de marrom e amarelo é percebida por entre os galhos e troncos que se mostram já bem secos ou ainda molhados, indicando como transcorreu a madrugada e como promete ser o novo dia, se já choveu ou se teremos céu azul, nublado ou chuvoso.

Aqui no sítio, onde já estou há alguns dias, a rotina é parecida. Salto da cama e corro para fora da casa que é cercada de muitas árvores diferentes. São jaqueiras, mangueiras, jambeiros, o bananal e um grande bambuzal que nos protegem dos ventos que sobem a partir do fundo do vale, a oeste. Preciso me afastar de suas paredes e telhado para olhar em direção das pequenas elevações cercadas de vegetação que cercam a casa por cerca de cento e oitenta graus, na direção do nascente. O sol presencial só depois das oito, em dias de céu claro, apesar de anunciado a partir das quatro pelos galos da vizinhança. Aqui é mais fácil ver o dourado do poente que o do nascer do sol, já que o setor oeste é mais livre de obstáculos próximos, e as montanhas avistadas no fundo do vale ficam muito distantes, no limite do horizonte. No sítio, a sinfonia matinal de passarinhos também é extremamente variada mas, ultimamente, tem sido abafada pela estridência insolente de bandos de maritacas.

Hoje é uma data especial em que é celebrado o dia dos pais e lembro-me do meu bom amigo que já nos deixou há vinte anos. Teria completado cem anos, se ainda estivesse entre nós, e despediu-se precocemente deste mundo aos oitenta. Estou aproveitando a companhia do meu sogro, o patriarca da família que tem noventa e três, e hoje acordou mais cedo para moer cana para todos nós. Meu filho mais velho, que será pai pela primeira vez a partir de janeiro já me chamou em vídeo agora há pouco, diretamente da Alemanha, onde vive. Estava fazendo a barba do meu sogro durante a chamada, e conversamos, ao mesmo tempo, três gerações: avô, pai e filho. Muito riso e pouco sizo! Minhas filhas já estão a caminho, subindo a serra para participar do almoço em família, regado a caldo de cana. Trazem o pequeno Damião, netinho amado, representante da quarta geração que em breve terá a companhia de um priminho ou priminha. Seu sexo, para arrepio dos idiotas defensores da ideologia de gênero, ainda não sabemos, mas sim descobriremos em breve. Vida que segue seu curso!

Sou grato por isso!

De olho na entrada do sítio, no fim da manhã, permaneço pensativo aguardando o barulho e a visão do carro que traz minhas filhas, genro e neto. Como testemunha silenciosa, sinto e ouço o vento mensageiro.

Chegaram!

Hoje, mais cedo, rabisquei no meu bloco de notas:

ah! no bambuzal!
de onde? para onde vai
rajada de vento?

Eduardo Leal

Foto de Eduardo Leal

Garrafa 503 – Arco esticado, íris brilhante!   Leave a comment

Em busca de inspiração para minhas brincadeiras com as palavras com a métrica do haicai, volta e meia  minha atenção é despertada pela percepção de alguma sensação corporal inesperada; pela visão de alguma imagem interessante ou pela leitura de algum texto instigante; pela escuta de algum som ou música suave ou surpreendente; pela detecção da presença de algum odor agradável ou repulsivo; ou pela degustação de alguma comida saborosa ou estranha ao próprio paladar.

E, muito frequentemente, isso ocorre pela sinestesia, ou a ocorrência simultânea de algumas dessas situações: uma sensação corporal que evoca uma imagem armazenada na memória afetiva, ou vice-versa; a associação do odor e do sabor de determinadas comidas ou bebidas com os lugares e pessoas em companhia de quem elas foram degustadas; ou de um perfume suave e nuvemovente percebido em uma rua movimentada, o que nos faz interromper nossa apressada caminhada, instintivamente mover nosso corpo todo na direção daquela “inspiração” e, muito mais rapidamente do que qualquer promessa enganosa de cartomantes inescrupulosas, traz sim a pessoa amada “de volta” em um segundo!

A visão de um belo arco-íris,  quando o sol explodiu em sete cores e revelou então os sete mil amores que o Tom guardou pra dar para Luiza, despertou minha memória musical. E as gotículas de água ainda em suspensão na atmosfera de outono, em uma tarde chuvosa, trouxeram de volta também as diversas lendas sobre um misterioso e desejado pote de ouro e brilhantes escondido na extremidade distante daquele arco fugaz e colorido. E pensamentos sobre quem possivelmente teríamos que nos tornaro que teríamos que fazer para chegar até lá, e resgatar o cobiçado premio por nossa eventual coragem e persistência. Tornar-me quem, senão eu mesmo? Fazer o que, senão ação amorosa? Fazer quando, senão agora?

E minha imaginação evocou também outro tipo possível de arco esticado em seu limite pelo filosófico arqueiro zen Eugen Herrigel, de minha memória literária. E a flecha de prata, aguardando a súbita liberação, carrega a sua própria alma, sua mensagem de vida e morte lançada na escuridão silenciosa da noite, enquanto a única fonte de luz perceptível naquele instante é o brilho interno da íris do arqueiro.

Apenas outro tipo de conexão arco-íris…

Pausa para um breve haicai:

arco esticado,
com a flecha de prata,
íris brilhante…

Eduardo Leal
Ilustração de autor desconhecido adaptada por Eduardo Leal
Instruções de utilização: Ouvir Luiza, no piano e voz de Tom Jobim

Íris brilhante 3

Garrafa 501 – Dono do próprio nariz!   Leave a comment

Na contramão de uma grande maioria que anseia apenas por ter! Obter! Possuir! Descobrir o impulso da própria semente!

Ser independente, livre, e capaz de assumir a responsabilidade pelos próprios atos são alguns dos requisitos para que se possa empreender a instigante jornada do autodesenvolvimento, passando pelo autodescobrimento, sem a qual ninguém chega a lugar nenhum que seja valioso e verdadeiro.

Autodescobrir-se para autodesenvolver-se!

Mas, quem sou eu? De que sou feito? Qual o impulso e intenção da minha própria semente? Autodescobrimento!

E, a partir daí, conhecendo essa intenção e impulso seminal, dar-lhe livre expressão e desenvolvimento. Autodesenvolvimento!

O descobrir-se! O simplesmente ser! Antes do fazer, e antes do ter!

Só assim o nosso fazer poderá estar alinhado com a intenção da própria semente, o nosso propósito!

Pausa para um breve haicai:

para ser feliz,
de ser dono não preciso.
tenho meu nariz!

Eduardo Leal
Ilustração de autor desconhecido

Nariz

Garrafa 500 – Quinhentos tons de celebração   3 comments

Esta é uma mensagem de celebração pelas 500 postagens realizadas desde outubro de 2005, quando o Blog “Três Coisas” marcou sua presença na Internet pela primeira vez, com o lançamento da Garrafa 1 – Três Coisas, que incluía no corpo do texto a Garrafa 0 – Primeiras Palavras. Só em 2011 o conteúdo da “Garrafa 0” foi replicado em uma página separada, e renomeada como “Garrafa Zero – Minhas Razões“.

E sei que esse não é um número tão grande assim. São 500 postagens em 155 meses, o que me diz que, em média, teria me manifestado de alguma maneira por três vezes em cada mês. Mas alterno períodos em que publico um post todo dia, como ocorreu em todos os dias do mês de abril de 2012, com outros de silêncios mais prolongados, até de um ano inteiro, como ocorreu agora, desde abril de 2015. E a quantidade de posts ou frequência de publicação não são a minha preocupação principal. Publico, quanto sinto que tenho algo relevante a dizer. E assim tem sido.

Com um pouco mais de dez anos de existência do Blog, muita coisa aconteceu comigo e com o meu entorno pessoal e profissional. Mas o conjunto de temas utilizados nas postagens não sofreu muitas alterações ao longo do tempo. Uma breve verificação de quais foram as palavras-chave mais usadas como “tags” ou “rótulos de busca” e que podem ser vistas na área da esquerda, em cada página, nos indica que os temas mais citados foram: Percepções, Aqui, Agora, Amor, Vida, Tempo, Oriah, O Convite, Coração, entre outros.

Ao longo desse tempo, quando senti que algum tema estava merecendo uma atenção especial, optei por lançar outro Blog com posts específicos enfocando o assunto em questão. Foi assim que surgiu o Blog “Sou Grato por Isso!” abordando o tema da gratidão; o Blog “Dieta de Notícias” abordando apenas notícias de conteúdo positivo; e o Blog “Vendo o mundo da varanda” abordando minhas percepções depois da prática meditativa matinal realizada rotineiramente na varanda do meu apartamento. Um outro Blog chamado de “Politicamente Integral” foi lançado há algum tempo, mas ainda não recebeu conteúdo significativo, o que pretendo fazer na medida da minha disponibilidade para estudar e pesquisar mais a respeito do tema. O Blog mais recente, que está em fase final de elaboração se chama “Um passo de cada vez” e deverá conter, inicialmente,  minhas percepções a respeito das fases de preparação e de caminhada efetiva ao longo do Caminho de Santiago de Compostela.

Não houve, infelizmente, e me dou conta disso agora, uma celebração formal no aniversário de dez anos do Blog “Três Coisas”, em 21 de outubro de 2015, contando o tempo a partir da data de sua primeira postagem, como seria de se esperar pelo meu apreço por celebrações de todos os tipos. Isso se deu pelo silencio e recolhimento que voluntariamente me impus, a partir do lançamento da Garrafa 496, de 20 de abril de 2015. Naquela ocasião, entrei em ritmo de preparação para percorrer o Caminho de Santiago de Compostela, o que efetivamente ocorreu entre setembro e outubro do ano passado.

Saí do Rio de Janeiro em 08 de setembro e iniciei a opção conhecida como “Caminho Francês” em 10 de setembro, a partir de Saint Jean de Pied de Port, na França, aos pés dos Montes Pirineus e percorri a maior parte do tempo atravessando as belas paisagens espanholas, até chegar em Santiago de Compostela. Durante esse período, quando cheguei ao povoado de Agés, próximo de Burgos, tive que fazer uma interrupção de uma semana, para tratar de tristes questões familiares na Alemanha, em Bremen, voltando ao mesmo ponto do Caminho onde tinha feito a interrupção, para só então concluir o trajeto previsto. Ao retornar ao Brasil, em 26 de outubro de 2015, levei um bom tempo ruminando, processando e degustando comigo mesmo tudo que vivenciei ao longo dos cerca de 800 quilômetros percorridos a cada passo daquela jornada inesquecível. Conheci lugares e pessoas especiais que estarão comigo, para sempre, na memória corporal e afetiva.

Retomei as postagens por aqui somente em abril de 2016,  há apenas uma semana atrás, para celebrar algumas datas especiais, entre elas o lançamento desta quingentésima garrafa.

Além deste texto, elaborei uma ilustração comemorativa fazendo uma composição com imagens encontradas na Internet sobre as quinhentas garrafas. Ao buscar nos posts já enviados uma trilha sonora que pudesse estar à altura da ocasião, optei por incluir algo ainda não postado e que é uma das peças de que mais gosto e que compõe a trilha sonora da minha vida. Como o tema do Amor, em todas as suas formas, é um dos mais abordados por aqui, enquanto dei conta de lançar apenas 500 garrafas com mensagens, o Grupo de Rock Progressivo italiano dos anos 70, “Banco del Mutuo Soccorso”, um dos meus preferidos, nos lembra que o amor faz já 750.000 anos!

Esta Garrafa 500 é portanto o meu presente tanto para os muitos seguidores do Blog, que me enchem de alegria quando costumam deixar seus comentários aqui e ali, quanto para os visitantes eventuais que não deixam outro traço de sua presença, além de um local de acesso em alguma praia distante de algum país, onde a garrafa lançada foi recolhida, e um número registrado nas estatísticas de acesso. São todos, tanto os muito ativos como os mais silenciosos, sempre muito bem-vindos ao Blog.

Se alguém, em algum lugar, em algum momento, encontrando uma dessas garrafinhas, ao bisbilhotar o seu conteúdo:

  • esboçar o mais leve sorriso;
  • ouvir aquele ruído característico de uma ficha caindo dentro da própria cabeça;
  • se lembrar, com carinho, de algum amor antigo ou atual, que já não veja há muito tempo (às vezes cinco minutos parecem uma eternidade); ou
  • for levado a refletir sobre a própria vida, a dos seus semelhantes e sobre os destinos desse nosso pequeno planeta azul…

Já terá valido a pena!

Como sempre gosto de fazer, brinco mais uma vez com as palavras, usando a métrica do haicai:

cinco, cinquenta,
já quinhentas garrafas!
recolheu alguma?

Eduardo Leal

Composição de Eduardo Leal com fotos de autores desconhecidos
Instruções de utilização: Ouvir “750.000 anni fa l’amore” com Banco del Mutuo Soccorso.

Image converted using ifftoany

Garrafa 499 – Cinquenta tons de saudade   Leave a comment

Como costumava acontecer desde que se conheceram, e mesmo tendo se passado já muitos anos desde que tinham se visto pela ultima vez, ele tinha adormecido acalentando com ternura a memória de sua imagem quase sempre sorridente, e sonhado com ela na noite anterior àquele dia especial.

Sonhou que tinham se reencontrado brevemente, a sós, e que conversaram animadamente, sem mágoas nem rancores, revendo os detalhes da fina tapeçaria entretecida com os fios da vida de cada um, tanto durante o período em que estiveram próximos, quanto depois que cada um seguiu o seu próprio caminho. Ela estava feliz com as escolhas que tinha feito no passado, e com sua situação atual, e ele se alegrou de verdade com isso. O que aconteceu foi a única e melhor coisa que poderia ter acontecido.

Ele tinha acordado bem cedo, como costumava fazer todas as manhãs. Mas, naquele dia de celebração do seu aniversário, como também já há muito tempo acontecia, não poderia vê-la pessoalmente. Não poderia estar com ela, nem que fosse apenas por alguns minutos. Não poderia segurar suas mãos e nem lhe dar um abraço longo e apertado. Isso estava simplesmente fora de questão.

Abandonando sentimentos de frustração e tristeza que imediatamente inundaram seu coração, mas que de nada serviriam naquela linda manhã de outono, deu um longo e profundo suspiro, e silenciosamente se perguntou: O que poderia ser feito? Como sentir-se um pouco mais próximo, mesmo que fisicamente muito distante? Como lhe enviar boas vibrações e energia amorosa, estando a criatura em outro hemisfério? E como entrar ele próprio em um estado mais positivo, apesar de uma grande e incômoda saudade da amiga aniversariante?

Procurou então agarrar-se a algumas pequenas lembranças, na verdade alguns objetos transformados em relíquias amorosas, que ele sabia tinham sido manuseados e tocados por ela, há muito tempo atrás. Eles ainda guardavam quem sabe algo de sua presença, de sua vibração original, de sua energia, do seu toque. Assim acreditava, e assim podia sentir, quando os invocava em sua memória cinestésica e os tocava de novo também.

Vasculhou suas gavetas e enfiou-se então dentro daquele short que tinha recebido de presente em um dia do seu próprio aniversário, e com o qual ela o havia surpreendido na saída do trabalho. Gostava dele de verdade, e o usava de vez em quando em suas caminhadas diárias pelas redondezas. Fazia isso também para matar a saudade, e sentia-se acompanhado por ela, quem sabe até dentro dela, em cada uma dessas ocasiões. Naquela manhã, entretanto, a título de uma distante e silenciosa celebração naquela data tão significativa, sentiu que só isso não seria o suficiente, já que era uma atitude rotineira. Precisava de algo mais.

Buscou então na sua estante um livro que ela tinha tomado emprestado por algumas semanas, e que tinha utilizado como referência para o seu trabalho de conclusão de curso. No seu interior encontravam-se preservadas diversas anotações feitas com uma versão de sua letra intencionalmente miúda e compactada, para caber e se acomodar nas laterais, no topo e nos rodapés de inúmeras daquelas páginas.

Lá estavam registrados seus comentários, suas observações, ora usando seu próprio código taquigráfico, ora apenas atribuindo uma nota “10” ou um “M” para longos parágrafos assinalados ou sublinhados a lápis de maneira suave: tudo aquilo que tinha despertado sua atenção e interesse, naquela ocasião.

E muitas emoções há muito tempo represadas voltaram com força, com a releitura de cada trecho, com a visão de cada rabisco, imediatamente associadas à memória do som de sua voz, durante os encontros que ocorreram ao longo do processo de pesquisa para aquele trabalho, e após a devolução do precioso livro para o seu zeloso proprietário.

Lembrou-se de que, nas semanas seguintes, seguiram-se diversas conversas, com a discussão das observações de parte a parte, com suas vozes interrompidas por longos silêncios, acompanhados de olhares ora divertidos ora curiosos, e por longas carícias e beijos apaixonados.

Ele nunca teve acesso ao texto final daquele trabalho. Não importa. Ficou feliz em poder contribuir de alguma maneira naquele projeto acadêmico, como ela já tinha feito em ocasião anterior em um projeto seu, elaborando slides para uma apresentação em PowerPoint, que complementaram e ilustraram a monografia entregue no seu curso de pós-graduação. Por algum tempo, tinham sido muito felizes na companhia um do outro. E não é isso que um sentimento de amor verdadeiro nos sugere fazer? Sempre e muito? Aproveitar a companhia do outro, e torcer e contribuir para o seu sucesso?

Sentiu-se melhor assim, tendo definido o seu ritual de celebração especial incluindo essas duas etapas.

Naquela mesma manhã, realizou uma longa caminhada usando seu short-relíquia. E procurou respirar longa e profundamente o ar fresco da manhã, cumprimentado gentilmente cada árvore e pessoa que encontrou pelo caminho que costumava percorrer para chegar até a praia. E sentiu a brisa levemente salgada fluindo entre suas pernas, no tronco suado, no próprio rosto e nos fios do cabelo. Pele arrepiada, permaneceu longamente com o olhar perdido na linha do horizonte, onde os diversos tons de verde e de azul do mar se encontravam com o azul luminoso e profundo do céu de abril. Cinquenta tons de verde, de azul e de saudade. Voltou para casa em paz.

Já com o livro reencontrado, a decisão foi diferente. Apenas alguns momentos de rápida leitura não seriam o bastante. Resolveu fazer uma celebração mais prolongada, à altura da ocasião. Decidiu reler o livro inteiro, ao longo dos próximos trinta dias, mesmo já estando envolvido com a leitura de outras obras em paralelo. E isso fazia todo o sentido também, em função de quem era o seu autor, seu principal mentor em assuntos de PNL, do tema da modelagem de estratégias de sucesso, e do momento profissional que estava vivenciando. Sincronicidade com o Universo, e o simples reconhecimento e aceitação da presença de coincidências significativas, que sempre aconteciam com ele, com ela, e com cada um de nós, sempre e quando nos mantemos atentos para reconhece-las em nossas vidas. E assim foi feito.

Decorridos os trinta dias de releitura e celebração, deu-se conta de que o livro foi o complemento perfeito para as investigações pessoais que estava realizando na ocasião. Alguns trechos mais significativos podem ter sido os seguintes:

“A solução de conflitos relacionados à identidade implica ‘segmentar’ num nível acima ao da própria identidade. Se cumprirmos esse requisito seremos capazes de ampliar nossos mapas de mundo para percebermos a nós mesmos como parte de sistemas mais amplos que estão à nossa volta, e alcançarmos um senso de missão e propósito global.”

“Uma identidade completa é um oceano inteiro, não simplesmente cada peixe diferente que nada nele. A identidade verdadeira de uma pessoa não é uma determinada imagem ou um sistema de medida, mas preferencialmente a luz que torna ambos possíveis.”

“Talvez não seja acidental que tantas pessoas ao longo da História tenham relacionado identidade e espírito com luz. Quando alguém alinha ou identifica a si mesmo com “matéria” ou “espírito”, corpo ou mente, Ego ou Id, o lado esquerdo do cérebro ou o lado direito do cérebro, lógica ou imaginação, estabilidade ou mudança, então essa pessoa está criando um desequilíbrio e um conflito em potencial. Quando alguém identifica a si mesmo com algo mais parecido com a luz, então a pessoa pode ver que o importante é o relacionamento entre esses elementos. Evolução e adaptação, por exemplo, são uma função de um processo de mudança no nível individual e de um processo de estabilização no nível do ambiente mais amplo. A evolução pessoal requer o mesmo equilíbrio de forças nos diferentes níveis lógicos.”

Recordando o sonho que tinha vivenciado há trinta dias atrás, e desejando que um breve encontro daquele tipo pudesse acontecer em algum momento do futuro, rabiscou no seu bloco de notas:

sem nenhum rancor,
conversa animada,
motivos certos.

Eduardo Leal
Pintura de Waldomiro Sant’ Anna – Leitura a dois
Leitura recomendada: “A Estratégia da Genialidade – Einstein” de Robert Dilts, Summus Editorial

Leitura a dois,

Garrafa 497 – Elos encadeados   Leave a comment

A credito firmemente que no Universo tudo está interconectado, que vivemos em um mundo interdependente e que nossa simples presença, aqui e agora, reverbera de alguma maneira até os confins da galáxia e da eternidade. E, mais ainda, que cada uma de nossas escolhas, por ação ou omissão, desencadeia nesse mesmo Universo uma série de consequências. Alguns desses resultados podem nos ser favoráveis, de uma perspectiva egóica, e outros, nem tanto. Mas são todos inescapáveis.

Outra maneira de expressar a mesma coisa, como teria feito Pablo Neruda, é  dizer que somos livres para fazer nossas próprias escolhas mas, assim fazendo, nos tornamos prisioneiros de cada uma de suas consequências.

Esse encadeamento de ações e reações, e de fatos e suas respectivas consequências me leva às vezes a pensar na vida como uma grande corrente com elos já previamente “encadeados”, mas cuja conexão efetiva apenas se dá a cada instante, a cada momento. E é interessante notar que a palavra cadeia, de onde a palavra encadeados procede, tanto pode ter como significado uma determinada sequencia de etapas ou estruturas, como também pode significar uma prisão.  Na corrente da vida, quando examinamos cada um dos seu elos, o do nosso momento atual, por exemplo, constatamos que ele está inexoravelmente atrelado aos elos que o precederam, com todas as escolhas que lá ficaram registradas no “Moleskine” do Universo. E, da mesma maneira, estará conectado aos elos que lhe sucederão. E é essa a mesma corrente que nos mantem aprisionados ao nosso passado, pelas consequências de nossas escolhas anteriores no momento atual. Nosso futuro, entretanto,  em alguma medida permanece em nossas próprias mãos, uma vez que os elos seguintes serão automaticamente selecionados apenas após as escolhas que fizermos no aqui e agora. As consequências serão automáticas, ou seja, já há diversos elos prontinhos para entrarem no gramado, fecharem permanentemente sua conexão, dependendo de cada uma das escolhas que fizermos no momento atual. Mas essas mesmas escolhas não precisam ser automáticas, e não o são, estão em aberto! Aqui! Agora! Aqui! Agora! Aqui! Agora! Agora!

Creio que é esse o principal trabalho de nossa consciência, o de iluminar nossas opções, nossas escolhas no momento atual. E de examinar, também, com um olhar apreciativo, as consequências de nossas escolhas do passado. Sistemas adaptativos complexos que somos, podemos e devemos aprender com nossas escolhas anteriores. E a famosa pergunta de aprendizado deve estar sempre presente em nossa consciência, no momento presente:

O que escolho fazer diferente, na próxima vez?

Pausa para um breve haicai:

corrente da vida
um elo de cada vez
encadeado

Eduardo Leal
Foto de autor desconhecido

Correntes 2

Garrafa 488 – Mestre e Aprendiz   2 comments

Ao cumprimentar uma antiga aluna de Coaching pelo seu aniversário, na semana passada, recebi um generoso e amável feedback positivo a respeito dos ensinamentos que lhe transmiti durante um curso ministrado em 2007. Isso inundou meu coração com o sentimento de gratidão e me fez refletir a respeito dessa curiosa relação Professor-Aluno, Mestre-Discípulo, Instrutor-Aprendiz, Coach-Explorador de novas possibilidades de futuro e de minhas próprias atitudes em cada uma dessas duas posições complementares, ao longo dos meus diversos processos de aprendizado.

Na mesma semana, incluindo na minha rotina semanal novas atividades para melhor harmonizar minha Prática de Vida Integral, depois de um flerte de vários anos com essa arte marcial, iniciei meu treinamento como aprendiz em um Curso de Aikido, após terminar a leitura de “A Arte da Paz” de Morihei Ueshiba. No dojo onde fui acolhido, sou o praticante menos graduado.

Pra começo de conversa, vale a pena ressaltar as palavras do nosso brilhante escritor João Guimarães Rosa quando nos diz que “Mestre não é quem sempre ensina mas aquele que, de repente aprende.” Infeliz daquele que, assumindo uma posição de instrutoria em algum assunto, acha que já sabe tudo sobre o tema em questão e despreza os raros mas valiosos ensinamentos que pode receber de seus respectivos aprendizes. Igualmente infeliz é aquele iniciante em qualquer prática que deixa de ver as coisas com aquele “Olhar de imigrante” ou “Olhar de deslumbramento” de quem vê um novo mundo pela primeira vez, e se deixa abater pela própria falta de conhecimento e experiência, sentindo-se intimidado e deprimido e desperdiçando diversas oportunidades de aprendizado e de autodesenvolvimento. E, como no provérbio em que “A primeira pessoa que escuta o que dizemos somos nós mesmos” podemos obter percepções e “insights” até mesmo ouvindo a nossa própria voz durante o processo, quando estamos citando e usando como referência o trabalho de alguém mais experiente.

Em qualquer situação meu feedback favorito é: “Puxa, nunca tinha pensado nisso dessa maneira!” Maravilha! Provoquei reflexão em alguém, ou eu mesmo fui levado por outra pessoa a ver as coisas de uma maneira ainda não explorada!

Meus questionamentos me levaram a rever o conteúdo de pelo menos dois livros: “From Coach to Awakener” de Robert Dilts e “Duas Perspectivas sobre a Iluminação” de A. S. Dalal.

Robert Dilts, usando seu elegante Modelo de Níveis NeuroLógicos que é amplamente usado pelos adeptos do Coaching com Programação Neurolinguística (PNL), discute os diferentes tipos de apoio que podem ser prestados, segundo sua visão, por um Coach com “C” maiúsculo. Dilts considera que o Coach com “C” minúsculo, que costumo denominar Coach Convencional, focaliza mais no Nível de Mudança Comportamental referindo-se ao processo de apoiar outra pessoa a obter ou melhorar um determinado desempenho comportamental. Essa abordagem é derivada primariamente do modelo esportivo de treinamento. Já o Coach com “C” maiúsculo envolve apoiar as pessoas no processo de obter resultados palpáveis em diversos Níveis de Mudança, enfatizando o fortalecimento da identidade e dos valores e procurando transformar sonhos e metas em realidade. Abrange as habilidades desenvolvidas por um Coach com “C” minúsculo, mas inclui muito mais. Para cada um dos diferentes Níveis de Mudança (Ambiente / Comportamento / Capacidade / Crenças e Valores / Identidade / Espiritual), além das respectivas perguntas poderosas que nos permitem investigar qualquer questão em cada Nível, são apresentados os tipos de apoio que podem/devem ser prestados (Guia / Coach com “C” minúsculo / Professor ou Consultor / Mentor / Patrocinador / Guru) e os respectivos estilos de liderança que melhor se adaptam a cada papel. Se o próprio Coach não puder exercer todos esses papéis, e é esperado que não consiga fazê-lo em todos os Níveis e para todos os tipos de Objetivos ou Metas, deve ajudar seu Explorador de novas possibilidades de futuro a encontrar quem possa complementar seu apoio, dependendo dos tipos de Objetivos/Metas que estejam sendo trabalhados.

TIPOS DE APOIO QUE PODEM SER PRESTADOS DURANTE UM PROCESSO DE COACHING

Tipos de Apoio Prestados por um Coach

No Nível do Ambiente relacionado ao Objetivo/Meta, o Coach com “C” maiúsculo assume o papel de Guia, se está familiarizado com esse ambiente, e pode adotar o estilo de liderança de Gerenciamento por exceção. Caso contrário, algum outro Guia que domine esse ambiente deve ser consultado. A necessidade de convite a outros profissionais acontece comigo com frequência pois não posso pretender estar familiarizado com os ambientes de todos os tipos de Objetivos/Metas em que sou convidado a apoiar o processo de exploração de novas possibilidades de futuro.

No Nível de Comportamentos relacionado ao Objetivo/Meta, o Coach com “C” maiúsculo assume o papel de Coach com “C” minúsculo, atendo-se aos aspectos comportamentais e às melhores práticas recomendadas para essa situação específica e pode adotar o estilo de liderança Estímulo por recompensa. A necessidade de convite a outros profissionais acontece comigo com menor frequência pois é possível descobrir um conjunto de boas práticas relacionadas aos diversos tipos de Objetivos/Metas em que sou convidado a apoiar o processo de exploração de novas possibilidades de futuro, tanto em pesquisas na literatura especializada quanto na Internet. Eventualmente, o mesmo profissional convidado a atuar como Guia pode prestar apoio nesse nível também.

No Nível de Capacidades relacionado ao Objetivo/Meta, o Coach com “C” maiúsculo pode eventualmente assumir o papel de Professor ou Consultor, ministrando os conhecimentos julgados necessários para se lidar com essa situação específica e pode adotar o estilo de liderança de Estímulo intelectual. Essa é uma situação extremamente delicada uma vez que o papel do Consultor (o Professor é um tipo de Consultor) é sugerir o que fazer, enquanto essa é a ultima coisa que um Coach deve fazer, apresentando no máximo sugestões indiretas, quando a pessoa não consegue perceber alternativas para avançar. Sugiro que as eventuais Sessões de Consultoria prestadas pela mesma pessoa que conduz um Processo de Coaching sejam realizadas em outro local e em outro momento, para que não haja confusão de papéis na cabeça do Explorador de novas possibilidades de futuro/Cliente/Aluno. Tenho me sentido confortável em oferecer consultoria em Comunicação Interpessoal, em Desenvolvimento de Habilidades Gerenciais e de Liderança e em Elaboração de Planos de Negócio. Eventualmente, o mesmo profissional convidado a atuar como Guia ou Coach com “C” minúsculo pode prestar apoio nesse nível também.

No Nível de Crenças e Valores relacionado ao Objetivo/Meta, o Coach com “C” maiúsculo pode e deve assumir o papel de Mentor, buscando identificar e neutralizar eventuais crenças limitantes e implantar e reforçar um conjunto de crenças poderosas que deem permissão para a pessoa avançar em relação à direção desejada. Nesse caso ele pode adotar o estilo de liderança Inspiracional. Esse é o nível em que me sinto mais à vontade, uma vez que a abordagem de Coaching Centrado em Valores, que desenvolvi a partir de 2006, enfatiza a exploração desse nível lógico uma vez que possuímos crenças (limitantes ou não) a respeito de todos os outros níveis de mudança (tanto acima como abaixo desse nível). Além disso, os diversos Níveis de Desenvolvimento de Consciência propostos pela Abordagem de Coaching Integral, que também fazem parte do conjunto de ferramentas que utilizo, são em grande medida relacionados a diferentes Sistemas de Crenças e Valores com os quais nos identificamos, em maior ou menor grau, à medida que avançamos em nosso próprio processo de desenvolvimento.

No Nível de Identidade relacionado ao Objetivo/Meta, o Coach com “C” maiúsculo pode e deve assumir o papel de Patrocinador, reforçando a autoestima da pessoa, oferecendo feedback positivo e construtivo, além de fornecer estimulo constante para o reconhecimento e a utilização de seus talentos, transformando-os em pontos fortes para utilização em proveito da conquista de seus respectivos Objetivos e Metas. Em uma Abordagem de Coaching Integral, como a que adoto, o trabalho com a Sombra da pessoa (aqueles conteúdos que são varridos para o inconsciente e que envolvem emoções primárias que não se deseja admitir, mas que volta e meia reaparecem como emoções secundárias sabotando suas ações) pode recomendar a participação, em paralelo ao Processo de Coaching, de um profissional da área de psicanálise ou psicoterapia. O estilo de liderança sugerido é o de Consideração Individualizada. Sinto-me bastante confortável em adotar esse estilo de liderança e atuar nesse nível lógico que tem um profundo impacto nas mudanças que ocorrem em todos os níveis inferiores, e que recebe a influência decisiva das eventuais mudanças promovidas no Nível de Crenças e Valores. Nosso Nível de Identidade é, em grande medida, a expressão de uma crença a respeito de quem pensamos que somos.

Finalmente, no Nível Espiritual relacionado ao Objetivo/Meta, que nada tem necessariamente a ver com religião e sim com “a quem mais nos sentimos conectados e a quem mais incluímos no nosso círculo de preocupações, cuidados e contribuições”, e ainda, “de quem podemos obter apoio para desenvolvimento de nossos projetos pessoais e coletivos”, o Coach com “C” maiúsculo pode eventualmente assumir o papel de Guru (o que promove o despertar), contribuindo para promover a elevação do nível de desenvolvimento de consciência da pessoa, meta recorrente em uma Abordagem de Coaching Integral e, muito mais raramente, no seu despertar para estados/níveis de consciência intuitivos (além da mente). Com muito maior frequência, o que costumo fazer é estimular o questionamento a respeito da necessidade de apoio externo proveniente da família, de amigos, de guias, de consultores e professores, de mentores, de patrocinadores, de gurus espirituais e até mesmo de algum tipo de divindade. Se a pessoa possui uma crença religiosa, a crença em uma Divindade pode exercer uma forte influência na quantidade de esforço que pode ser alocada às suas tarefas de desenvolvimento pessoal. Identificadas essas necessidades, apoio o processo de sua obtenção. O estilo de liderança sugerido é a Liderança Carismática e Visionária.

Os questionamentos provocados pela necessidade de apoio às mudanças no Nível Espiritual me fizeram voltar a consultar o ótimo livro de A. S. Dalal em que ele nos oferece um estudo comparativo das abordagens propostas por dois Mestres Espirituais Iluminados para o despertar de um nível de consciência além da mente: Sri Aurobindo e Echart Tolle. Selecionei alguns comentários apenas referentes ao conteúdo do Anexo II dessa obra em que são apresentados “Os Três Instrumentos do Professor”, assim foi traduzido, mas segundo meu entendimento trata-se mais de um Guru ou Mestre Espiritual, na visão de Sri Aurobindo. Após a definição de cada um desses “Instrumentos” apresento, como sempre gosto de fazer, uma breve brincadeira com as palavras, com a métrica de um haicai, e que foi inspirada nessa releitura. Incluí um título em cada haicai.

“Instrução, exemplo e influência – esses são os três instrumentos do Guru.”

Sobre a Instrução, Sri Aurobindo nos adverte que:

“… o Professor prudente não visará se impor ou impor suas opiniões na aceitação passiva da mente recebedora; ele oferecerá somente o que é produtivo e seguro como uma semente que crescerá sob a proteção interior divina. Ele buscará despertar muito mais do que instruir; objetivará o desenvolvimento das faculdades e das experiências por um processo natural e uma expansão livre. Ele ensinará um método como um apoio, um dispositivo utilizável, não como uma forma imperativa ou uma rotina fixa. E ele estará na guarda contra qualquer transformação dos recursos em uma limitação, contra a mecanização do processo. Sua atividade completa é a despertar a luz divina e iniciar as atividades da força divina da qual ele é, em seus próprios termos, apenas uma ferramenta e um apoio, um corpo ou um canal.”

Germinação

Instrução divina

rota que seduz:
de dentro da semente
impulso de Luz!

Sobre o Exemplo, Sri Aurobindo nos diz que:

“O exemplo é mais poderoso do que a instrução; mas, não é o exemplo dos atos externos nem da natureza pessoal que tem a maior importância. Eles têm seu lugar e sua utilidade; no entanto, o que na maior parte dos casos estimulará aspiração nos outros é o fato central da realização divina dentro dele governando toda sua vida e seu estado interior e todas as suas atividades. Esse é o elemento essencial e universal; o restante pertence à pessoa e às circunstâncias individuais. É essa realização dinâmica que o sadhaka (Praticante de desenvolvimento espiritual) deve sentir e reproduzir em si mesmo de acordo com sua própria natureza; ele não necessita de esforço após uma imitação do exterior que pode muito bem ser mais esterilizador do que gerador de frutos corretos e naturais.”

Exemplo de conduta

Exemplo

mais poderosa
que qualquer informação:
ação amorosa!

Sobre a Influência, essas são as palavras de Sri Aurobindo:

“A influência é mais importante do que o exemplo. A influência não é a autoridade exterior do Mestre sobre seu discípulo, mas sim o poder de seu contato, sua Presença, da proximidade de sua alma com a alma do outro, infiltrando-se por ela, muito embora em silêncio, o que ele propriamente é e possui. Essa é a marca suprema do Mestre. Assim, o maior de todos os Mestres é muito menos um Professor do que uma Presença derramando a consciência divina e sua luz, poder, pureza e êxtase em todos que se mostram receptivos ao seu redor.”

Mestre e discípulo

Influência

em plena calma,
mestre e discípulo,
alma com alma.

Eduardo Leal
Ilustração de Eduardo Leal baseada no conteúdo de “From Coach to Awakener” de Robert Dilts
Haicais de Eduardo Leal
Fotos de autores desconhecidos

Garrafa 435 – O Poder do Silêncio 5   Leave a comment

Conforme compromisso assumido anteriormente comigo mesmo, destaco mais uma citação de “O Poder do Silêncio” em que Eckhart Tolle nos aponta um caminho:

“Quando você olha para uma árvore e percebe a calma da árvore, você também se acalma. Você se conecta à árvore num nível muito profundo. Você sente uma unidade com tudo o que percebe na calma e através dela. Sentir a sua unidade com todas as coisas é amor.”

Pausa para um breve haicai:

raiz na terra,
a árvore da vida,
sem medo da serra…

Eduardo Leal
Foto de autor desconhecido
Inspirado na leitura de “O Poder do Silêncio” de Eckhart Tolle

Garrafa 434 – O Poder do Silêncio 4   Leave a comment

Conforme compromisso assumido anteriormente comigo mesmo, destaco mais uma citação de “O Poder do Silêncio” em que Eckhart Tolle nos aponta um caminho:

“Olhe para uma árvore, uma flor, uma planta. Deixe sua atenção repousar nelas. Note como estão calmas, profundamente enraizadas no Ser. Deixe que a natureza lhe ensine o que é calma.”

Pausa para um breve haicai:

como Te perceber,
enraizado no Ser,
desejo saber…

Eduardo Leal
Foto de autor desconhecido – Assacu da Pompeu Loureiro (antes da tentativa frustrada de derrubada)
Inspirado na leitura de “O Poder do Silêncio” de Eckhart Tolle

Garrafa 430 – O Poder do Silêncio 3   Leave a comment

Conforme compromisso assumido anteriormente comigo mesmo, destaco mais uma citação de “O Poder do Silêncio” em que Eckhart Tolle nos aponta um caminho:

“O equivalente ao barulho externo é o barulho interno do pensamento. O equivalente ao silêncio externo é a calma interior.
Sempre que houver silêncio à sua volta, ouça-o. Isso significa: apenas perceba-o. Preste atenção nele. Ouvir o silêncio desperta a dimensão de calma que já existe dentro de você, porque é só através da calma que você pode perceber o silêncio.
Veja que, quando percebe o silêncio à sua volta, você não está pensando. Está consciente do silêncio, mas não está pensando.
Quando você percebe o silêncio, instala-se imediatamente uma calma alerta no seu interior. Você está presente.”

Pausa para um breve haicai:

do exterior,
perceber o silêncio,
paz interior…

Eduardo Leal
Foto de autor desconhecido
Inspirado na leitura de “O Poder do Silêncio” de Eckhart Tolle