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Garrafa 504 – Errando melhor   2 comments

Saber de cor é como saber sem fazer esforço para evocar o conteúdo do conhecimento, quando esse conhecimento provém de uma sabedoria corporal, diretamente do “coração”. Em latim, “cor” quer dizer coração.

E de maneira semelhante à empregada na língua portuguesa, em inglês, a expressão “to know by heart” tem exatamente o mesmo sentido e usa as mesmas palavras, “saber com o coração”. E o mesmo se dá em francês, com a expressão “savoir par coeur”, que significa “saber por intermédio do coração”.

Mas o que podemos ou devemos fazer para alcançarmos esse nível de aprendizado, a ponto de saber com o coração?

Em um dos modelos de “Ciclo de Aprendizado” mais conhecidos, podem ser identificadas quatro fases distintas para alcançarmos o completo domínio de algum tipo de conhecimento:

a) No início do processo de aprendizado, seja lá do que for, há uma fase em que se pode dizer que “nem sei que não sei”, um momento de desconhecimento total, de completa ignorância a respeito do nosso próprio desconhecimento e até mesmo da existência daquele determinado tema;

b) Até que descobrimos que há “algo” que não sabemos, que há um tema de que antes nunca tínhamos ouvido falar, e sobre o qual tudo desconhecemos, iniciando a fase do “sei que não sei”;

c) Se decidimos então aprender a respeito desse tema e ultrapassar essa segunda fase, saímos em busca de informações a respeito e, principalmente, começamos a colocar em pratica esse novo saber progressivamente adquirido, até que chega um momento em que podemos dizer que “sei que sei” algo a respeito desse tema e apresentamos algum grau de domínio a respeito do assunto em questão; e

d) Finalmente, a prática continuada e prolongada nos leva então à ultima fase do processo, com o completo domínio – com toda a maestria – no trato da questão. Nos tornamos “um mestre”. O tema já foi introjetado, sabemos de cor, sabemos com o coração, e não mais apenas com o pensamento. E podemos dizer até que “nem sei que sei”.

Como já mencionado no post da Garrafa 502 – O fazer é lei!, nas fase c) e d) do Ciclo de Aprendizado, a ênfase está no fazer, na prática continuada e prolongada.

Seres imperfeitos que somos, em contínuo processo de desenvolvimento e evolução, até mesmo um mestre é passível de cometer erros e enganos. Mas erra melhor! Erra menos! Comete erros novos, ao invés de repetir os mesmos erros! Está, a cada passo, mais próximo da perfeição!

Pausa para um breve haicai:

errando melhor,
vou querendo acertar,
que não sei de cor.

Eduardo Leal
Ilustração de autor desconhecido

Errando melhor

Garrafa 485 – O pássaro   Leave a comment

Recebi na tarde de ontem, pelo correio, presente de aniversário que enviei para mim mesmo: o último livro de poesias de Zélia Guardiano “Caderno de Desapontamentos”, da Editora Penalux.

Obra cheia de delicadezas poéticas, que sorvi sofregamente de um só gole assim que chegou, será novamente degustada lentamente como convém fazer com o conteúdo das garrafas de vinho das melhores safras e procedências.

Transcrevo abaixo um dos poemas que me encantou:

Parece empalhado
O pássaro que
Ensimesmado
Pousa
Sobre o mourão
Da cerca
De arame farpado

Suas tênues penas
(Só as penas)
Sutilmente
Movem-se
Ao sopro
De uma leve brisa

Ninguém precisa
Perguntar-lhe:
Em que pensa?

Vê-se:
Com olhos
Embaçados
Fixos num ponto
Tenta decifrar
Enigma

(Seria a vida?)

Zélia Guardiano
Foto de autor desconhecido

Anu-branco rabo-de-palha

Garrafa 430 – O Poder do Silêncio 3   Leave a comment

Conforme compromisso assumido anteriormente comigo mesmo, destaco mais uma citação de “O Poder do Silêncio” em que Eckhart Tolle nos aponta um caminho:

“O equivalente ao barulho externo é o barulho interno do pensamento. O equivalente ao silêncio externo é a calma interior.
Sempre que houver silêncio à sua volta, ouça-o. Isso significa: apenas perceba-o. Preste atenção nele. Ouvir o silêncio desperta a dimensão de calma que já existe dentro de você, porque é só através da calma que você pode perceber o silêncio.
Veja que, quando percebe o silêncio à sua volta, você não está pensando. Está consciente do silêncio, mas não está pensando.
Quando você percebe o silêncio, instala-se imediatamente uma calma alerta no seu interior. Você está presente.”

Pausa para um breve haicai:

do exterior,
perceber o silêncio,
paz interior…

Eduardo Leal
Foto de autor desconhecido
Inspirado na leitura de “O Poder do Silêncio” de Eckhart Tolle

Garrafa 346 – Clareza de visão, impulso para a ação!   Leave a comment

Uma das crenças que adotei, depois que tomei conhecimento da Programação Neurolingüística, é a de que “para o bem ou para o mal, tudo começa com um pensamento.” E acredito também que criar uma clara visão do tipo de pessoa que desejamos nos tornar, com o auxílio da nossa imaginação, alinhada com nossos valores mais profundos, é uma poderosa fonte de motivação.

Estou sempre à procura de situações e exemplos que confirmem essa pressuposição e fico feliz em compartilhar o que encontro e que faz sentido pra mim. O que é sentido, faz sentido! Da leitura de “Madre Teresa, CEO” e seu princípio “Sonhe simples, fale com força”, destaco o seguinte trecho:

“Seu sonho era ajudar os mais pobres entre os pobres. Tudo que fez em vida derivou do fato de ter definido sua visão, alinhando e mobilizando todos os seus recursos e seguidores na direção dessa meta.”

Para reflexão: Qual é a sua visão pessoal? Quem (que tipo de pessoa) você quer se tornar dentro de 10/15/20 anos?

Pausa e inspiração para um breve haicai:

um sonho simples
dito com paixão… fogo,
lenha, convicção!

Eduardo Leal
Inspirado no livro “Madre Teresa, CEO” de Ruma Bose e Lou Faust
Foto de autor desconhecido
Instruções de utilização: Ouvir “I Believe in You” com Spyro Gyra

Garrafa 169 – Gosto de pensar (estatísticas de acesso)   2 comments

Como já declarei na página deste Blog denominada Minhas Razões, a melhor metáfora que encontro para a atitude de criar um BLOG, e mantê-lo em atividade, é aquele curioso hábito que algumas pessoas sonhadoras têm de escrever mensagens, colocá-las dentro de pequenas garrafas e lançá-las ao mar. Algumas trazem informações sobre o remetente e o endereço de destino; outras guardam, para sempre, mais esse segredo. Mas todas, sem exceção, são lançadas na esperança de que alguém, em algum lugar, em algum momento, irá recolhê-las intactas e, com curiosidade e talvez algum assombro, tomar conhecimento do seu conteúdo.

Assim, fico muito feliz quando os visitantes do blog deixam seus comentários aqui e ali, indicando que alguma garrafa foi recolhida e lida, e mereceu uma resposta ao seu remetente sonhador. Entretanto, muitos visitantes não deixam outro traço de sua presença, além de um local de acesso em alguma praia distante de algum país, onde a garrafa lançada foi recolhida, e apenas mais um número registrado nas estatísticas de acesso. E são todos, tanto os muito ativos como os mais silenciosos, sempre muito bem-vindos ao Blog.

E são essas maravilhosas ferramentas de rastreamento estatístico que nos permitem supor, pelo local de acesso – uma cidade bem específica – que alguém que conhecemos fez uma dessas visitas silenciosas. Fico feliz só em pensar nessa possibilidade.

Pausa para um breve haicai:

gosto de pensar
que foi você quem entrou,
ontem no meu blog…

Eduardo Leal
Ilustração de autor desconhecido

Estatísticas de acesso

Estatísticas de acesso

 

 

Garrafa 103 – O meu olhar   Leave a comment

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
olhando para a direita e para a esquerda,
e de, vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
é aquilo que nunca antes eu tinha visto,
e eu sei dar por isso muito bem…
Sei ter o pasmo essencial
que tem uma criança se, ao nascer,
reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
para a eterna novidade do Mundo…

Creio no mundo como num malmequer,
porque o vejo. Mas não penso nele
porque pensar é não compreender …

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(pensar é estar doente dos olhos)
mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
mas porque a amo, e amo-a por isso,
porque quem ama nunca sabe o que ama
nem sabe por que ama, nem o que é amar …
Amar é a eterna inocência,
e a única inocência não pensar…

Alberto Caeiro/Fernando Pessoa em “O Guardador de Rebanhos”
Instruções de utilização: Ouvir “Innocent Soul” com Spyro Gyra

Garrafa 81 – Educação 2   1 comment

O desenvolvimento da habilidade geral para pensamento e julgamento independentes, sempre deveria ser colocado em primeiro lugar; e não a aquisição de um conhecimento especial. Se uma pessoa domina os fundamentos do assunto e aprendeu a pensar de forma independente, ela seguramente achará seu caminho e ainda poderá melhor adaptar-se ao progresso e às mudanças do que uma pessoa cujo treinamento principal consiste em adquirir conhecimento detalhado.
 
Albert Einstein

Garrafa 34 – Cantiga para não morrer   Leave a comment

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

Ferreira Gullar
Foto de autor desconhecido

Esquecimento

Garrafa 23 – Sucedeu assim   Leave a comment

Assim,
Começou assim
Uma coisa sem graça
Coisa boba que passa
Que ninguém percebeu

Assim,
Depois ficou assim
Quiz fazer um carinho,
Receber um carinho,
E você percebeu

Fez-se uma pausa no tempo
Cessou todo meu pensamento
E como acontece uma flor
Também acontece o amor

Assim,
Sucedeu assim,
E foi tão de repente
Que a cabeça da gente
Virou só coração
Não poderia supor
Que o amor nos pudesse prender,
Abriu-se em meu peito a canção
E a paixão por você

Antonio Carlos Jobim e Marino Pinto – 1957
Foto de autor desconhecido

Garrafa 12 – Canção   Leave a comment

Viver não dói. O que dói
é a vida que não se vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.

Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.

Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.

Viver não dói. O que dói
ferindo fundo, ferindo,
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido.

Que tudo o mais é perdido.

Emílio Moura

Ilustração de autor desconhecido.
Instruções de utilização: Ouvir “A Song for You” na voz de Karen Carpenter

Solidão 2