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Garrafa 222- A-ah, Matsushima, ah!   Leave a comment

Estive na região nordeste do Japão com minha família, em janeiro de 2008, mais precisamente em Sendai, Matsushima e Shiogama e acompanho com tristeza e preocupação as informações que chegam a cada instante dando conta do maremoto e sua subsequente tsunami, ocorridos no dia de ontem naquela região. Preocupação com a falta de notícias de alguns amigos e amigas que fizemos por lá e tristeza pelas milhares de vidas interrompidas e também pelos prejuizos materiais e culturais decorrentes dessa tragédia.

Além das imagens de devastação em Sendai e arredores, minhas pesquisas pela Internet revelaram, até o momento, apenas duas fotos de trens descrrilados em Matsushima (link1 e link2), o que me faz pensar na triste possibilidade de danos ainda não revelados, por dificuldades de acesso ao local.

Trago comigo as melhores lembranças, no sopro gelado de uma fria manhã de inverno, de um dos lugares mais bonitos que já conheci. Fecho os olhos por um momento e vejo a Baia de Matsushima com suas centenas de ilhas rochosas cobertas de pinheiros, sendo sobrevoadas por gaivotas que insistem em seguir o rastro deixado pelo nosso barco e nos observar com olhares curiosos e inquisidores. Vejo ainda alguns dos seus pequenos tesouros arquitetonicos e culturais à beira mar tais como o Templo de Zuigan-ji e seu silencioso e misterioso jardim zen. Será que meu firme desejo de regresso, da próxima vez na primavera, será interrompido por um outro vento gelado, desta vez carregado de radioatividade, tornando essas paisagens proibidas por décadas, como as cercanias de Chernobil? Um calafrio incomodo me percorre a espinha!

A partir de 1689, durante cerca de quatro anos, o sensível poeta Matsuo Basho percorreu as trilhas da região norte da ilha de Honshu, no arquipélago do Japão, tendo como iluminação apenas o clarão da lua cheia… Durante sua passagem por Matsushima, quase sem palavras, deixou-nos o registro de sua embevecida admiração, por meio do seguinte haikai:

Ah Matsushima!
A-ah, Matsushima, ah!
Ah, Matsushima!

 

Revendo as fotos que tirei na ocasião de minha breve visita ao jardim zen do templo de Zuigan-ji, uma delas me chama a atenção, como distantes ecos premonitórios dos sábios monges que o idealizaram, com a imagem do arquipélago do Japão cercado de tsunamis, nas águas nada tranquilas do Pacífico…

A-ah, Matsushima, ah…

Jardim Zen em Zuigan-ji

Foto de Eduardo Leal