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Garrafa 454 – Alma vazia   Leave a comment

Há alguns dias atrás caí em uma armadilha. Uma armadilha do Ego.

Empolgado com meu próprio interesse pela poesia, e pela rima fácil, declarei meu amor de maneira discriminatória, com certo desprezo por quem não compartilha minhas preferências estéticas. Disse, e me arrependo de tê-lo feito, que: “quem não curte poesia me dá azia”.

Desde o início, senti uma certa náusea sim, um desconforto difuso… Mas agora estou certo de que foram causados pela minha própria atitude de pretensiosa superioridade. A leitura do texto atribuído a Mooji, que transcrevo abaixo, me fez refletir:

Se você acha que é mais “espiritual” andar de bicicleta ou usar transporte público para se locomover, tudo bem, mas se você julgar qualquer outra pessoa que dirige um carro, então você está preso em uma armadilha do ego.
Se você acha que é mais “espiritual” não ver televisão porque fode com o seu cérebro, tudo bem, mas se julgar aqueles que ainda assistem, então você está preso em uma armadilha do ego.
Se você acha que é mais “espiritual” evitar saber de fofocas ou noticias da mídia , mas se encontra julgando aqueles que leem essas coisas, então você está preso em uma armadilha do ego.
Se você acha que é mais “espiritual” fazer Yoga, se tornar vegano, comprar só comidas orgânicas, comprar cristais, praticar reiki, meditar, usar roupas “hippies”, visitar templos, e ler livros sobre iluminação espiritual, mas julgar qualquer pessoa que não faça isso, então você está preso em uma armadilha do ego.
Sempre esteja consciente ao se sentir superior. A noção de que você é superior é a maior indicação de que você está em uma armadilha egóica. O ego adora entrar pela porta de trás. Ele vai pegar uma ideia nobre, como começar yoga, e então distorce-la para servir o seu objetivo ao fazer você se sentir superior aos outros; você começará a menosprezar aqueles que não estão seguindo o seu “caminho espiritual certo”.
Superioridade, julgamento e condenação. Essas são armadilhas do ego.(Mooji)

É isso. A azia causada pela minha atitude, por minha própria alma momentaneamente vazia, me fez tomar um sal de frutas de verdade. Já me sinto melhor agora…

E fui depressa buscar outra rima, outra forma benigna de expressar minha preferência pela poesia. E fui também ao encalço de outra imagem para complementar a nova ideia. E encontrei na foto de uma bela mulher de nome poético, a Patrícia Poeta, quem sabe um incentivo saudável e bem humorado para alguém considerar a possibilidade de passar a apreciar a poesia. E sei que corro o risco de desagradar uma parcela do público feminino e, quem sabe, de parcela do público homossexual… Do público masculino não creio. Paciência, são as minhas preferências afinal.

E o novo haicai ficou assim:

alma vazia,
quem não curte poesia,
bem que podia…

Eduardo Leal
Fotos de autores desconhecidos