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Garrafa 138 – Evidências   Leave a comment

Algumas pessoas, ao final de um relacionamento, em atitude desrespeitosa para consigo mesmas e para com o outro, fingem que nada aconteceu… E talvez até pretendam tentar convencer a outra parte de que essa atitude de fuga do seu próprio passado é a mais pura expressão da verdade, da sua verdade.

Lembranças que talvez agora as deixem embaraçadas, quem sabe?

Mas algumas poucas cartas e mensagens trocadas na ocasião são uma prova material, uma evidência, e podem comprovar para a outra parte que algo existiu e foi verdadeiro, mesmo que apenas por um breve momento…

Melhor seria guardar com carinho o que foi bom, enquanto durou, e aprender com o que não deu certo. E a pergunta de aprendizado é sempre bem-vinda nessas ocasiões:

“O que escolho fazer diferente, da próxima vez?”

Relendo antiga correspondência que encontrei em um baú esquecido da memória, pausa para um breve haicai…

benditas cartas
que me dizem que algo
foi verdadeiro…

Eduardo Leal
Foto de autor desconhecido
Instruções de utilização: Ouvir “Cartas de amor”, poema de Fernando Pessoa, na voz de Maria Bethânia

Garrafa 129 – Fases da lua   2 comments

Noite de inverno em um quarto de hotel em Nara.

Minhas duas filhas já se recolheram e permanecem bem encolhidas debaixo das cobertas no quarto ao lado. E meu sobrinho, que me acompanhou nessa viagem pelo sul do Japão, também dorme profundamente no beliche em cima da minha cama.

Na mesinha, ao alcance da mão, um bloco de anotações e uma caneta esperam, há algum tempo, que algum hóspede registre um número de telefone importante, faça alguns rabiscos sem nexo ou, quem sabe, escreva uma carta de amor…

Nenhum ruído do lado de fora, enquanto a luz da lua entra pela janela, filtrada pelo ar gelado…

O quarto pequeno, na penumbra, parece crescer de tamanho enquanto observo um pequeno trecho de céu sem estrelas.

E, de repente, sou invadido por uma saudade enorme!
Saudades de um futuro que não volta mais…

Com um pequeno sobressalto, rabisco no bloco de notas um breve haicai:

quarto crescente,
madrugada gelada,
você minguante…

Eduardo Leal
Ilustração de autor desconhecido

Fases da lua