Há alguns anos atrás, explorando uma ferramenta desenvolvida pelo Instituto Gallup – o Teste de Pontos Fortes – descobri que um dos meus talentos dominantes é a Intelecção. Gosto de pensar. Gosto de atividade mental. E essa atividade mental pode ser focada, direcionada por meus outros talentos dominantes, ou desprovida de foco. Gosto do tempo que passo sozinho porque é meu momento de concentração e introspecção. Em diversos momentos, sou minha melhor companhia, fazendo a mim mesmo diversas perguntas e buscando respostas que façam sentido. Esse rumor mental é uma constante em minha vida.
Uma vez que meu primeiro talento é ser Estudioso, o foco do meu pensamento tem sido direcionado aos processos de aprendizado e envolvimento com várias experiências de participação em cursos de graduação, pós-graduação e outros tipos de cursos livres e de autodesenvolvimento. A Psicologia, o Coaching, a Filosofia, a Poesia e a Espiritualidade têm sido interesses constantes e é aí que mora o problema. Minha curiosidade filosófica me levou a conhecer mais a respeito da filosofia budista, mais especialmente sobre o Zen-budismo. Hoje considero que minha prática espiritual se resume à meditação sentado (zazen), sem nenhum “verniz religioso” budista, caminho que escolhi para elevar o meu nível de consciência.
E por que isso poderia se tornar um problema? Acontece que todos escritos Zen apontam para a necessidade de se silenciar a mente e o pensamento, para o desenvolvimento de uma não-mente. Desde Buda, na Índia (atual Nepal) do século IV AC, as escolas Ninaiana e Maaiana na Índia, os “patriarcas” na China, a partir de Bodhidarma, entre os séculos I e VI DC, e com a chegada do Zen ao Japão a partir do século VI, as escolas Shingon e Tendai no século XI DC, o Budismo de Kamakura entre os séculos XII e XIII DC, as escolas Zen-Budistas Soto (Dogen) e Rinzai (Eisai), chegando aos mestres e estudiosos orientais (Suzuki) e ocidentais todos batem na mesma tecla: silenciar a mente e o pensamento. Sacaram?
Nas ultimas semanas, li novamente o ótimo livro de Charlotte Joko Beck “Sempre Zen” – sobre como introduzir a prática do Zen no seu dia a dia – e iniciei a leitura de “Zen no Trabalho” – sobre a experiência empresarial de um mestre Zen – de Les Kaye. Isso é claro, disparou uma série de consultas a outras obras que constam da minha pequena biblioteca tais como “A Lua numa Gota de Orvalho” – com os escritos do Mestre Dogen – organizado por Kazuaki Tanahashi, “Textos Budistas e Zen-Budistas” organizado por Ricardo M. Gonçalves, “A Tigela e o Bastão” – com 120 contos Zen – narrados pelo mestre Taisen Deshimaru, “A Doutrina Zen da Não-Mente” e “Manual of Zen Buddhism” de D. T. Suzuki e “How to Practice Zazen” do Institute for Zen Studies.
Transcrevo abaixo algumas citações que ficam dando voltas na minha mente:
– Há um Real, um Absoluto inacessível ao pensamento e à linguagem que está em todas as coisas e também dentro delas. O Tathata (aquilo que é assim mesmo) ou Sunyata (Vazio). No Budismo é expresso dialeticamente como o contínuo vir-a-ser, a perpétua transformação de todas as coisas. (Verdades metafísicas apresentadas pelo Budismo e pelo Hinduísmo)
– A mente é senhora dos cinco sentidos. Por isso deveis disciplinar vossa mente. A mente é mais perigosa que uma cobra venenosa, uma fera ou um salteador. É como uma pessoa que, entretida com o mel que transporta em suas mãos, não enxerga um buraco e cai nele. Se deixardes vossa mente entregue a si mesma, perdereis as boas coisas. Se a vigiardes, tudo correrá bem. Por isso, ó monges, deveis vos esforçar e dominar vossa mente. (Butsuyuikyô-gyô – O último sermão de Buda)
– Ó monges, todo aquele que tem uma intenção firme, conserva sua mente em estado de concentração. Por isso, ele sabe os Darmas do nascimento e da dissolução do mundo. Por isso, deveis vos esforçar e praticar as diversas concentrações. Aquele que consegue praticar a concentração não tem uma mente dispersiva. É como aquele que economiza água e a guarda com cuidado. O praticante exercita-se na concentração, a fim de bem guardar a água da Sabedoria. (Butsuyuikyô-gyô – O último sermão de Buda)
– Por isso, ó Sariputra, sendo todas as coisas vazias de substância própria, não há fenômenos materiais, não há sensações, não há ideias, não há vontade e não há consciência. Não há olhos, não há ouvidos, não há nariz, não há língua, não há corpo, não há mente, não há forma, não há ruído, não há cheiro, não há gosto, não há coisa palpável nem coisa perceptível através da mente. Nada há, desde a esfera de influência da vista até a esfera de influência da mente.
– … nós seres humanos, não somos como os cães. Temos mentes centradas em si mesmas que nos remetem a muitos problemas. Se não entendermos o equivoco da nossa forma de pensar, nossa autopercepção, que é nossa maior benção, torna-se também nossa perdição. (Iniciando a prática Zen – em “Sempre Zen”)
– A iluminação não é algo que se atinge. É a ausência de alguma coisa. A vida inteira, a pessoa vai atrás de algo, perseguindo suas metas. A iluminação está em deixar tudo isso de lado. (Iniciando a prática Zen – em “Sempre Zen”)
– Nossa prática é, de momento a momento, como uma escolha, uma encruzilhada no caminho: podemos ir por aqui ou por ali. É sempre uma escolha, a cada momento, entre o belo mundo que desejamos criar em nossas mentes, e aquilo que de fato existe. (Iniciando a prática Zen – em “Sempre Zen”)
Enfrentar a tensão provocada pela oposição entre minha tendência a viver no mundo mental e minha prática espiritual que me leva a buscar silenciar a mente e o pensamento, tem sido um desafio quase insuportável. Ainda mais quando tenho que conciliar tudo isso com o meu próprio Autocoaching, revendo meu Plano de Vida para 2013, e a realização de diversas sessões de Coaching Centrado em Valores em que meu papel é o de orientar meus Exploradores de Novas Possibilidades de Futuro a direcionar seus desejos e seus egos, no sentido de estabelecimento de seus próprios objetivos e metas, estratégias e indicadores de desempenho.
Aliás, Pensamento Estratégico é outro de meus talentos dominantes e tem me capacitado a abrir caminho em meio à desordem e encontrar a melhor rota. Às vezes consigo perceber padrões, onde outros veem simplesmente complexidade. Vivo às voltas com o estabelecimento de cenários alternativos e me perguntando: “E se isso acontecesse?” É com base nesse tipo de pensamento que estabeleço minhas estratégias e assessoro meus clientes de consultoria.
Enfim, vivo no fio da navalha. Pensar ou não pensar é a questão! E às vezes me questiono: Será que, ao contrário do que dizem os Zen-budistas, não passa pela minha cabeça pelo menos um pensamento são?
Hoje cedo, na pracinha em que me encontrava pensativo, ao mesmo tempo em que o ruído produzido pelos fiéis que saíam de uma igreja evangélica quebrou o silêncio da manhã, um sopro de vento me sussurrou ao ouvido:
do jeito que são,
confiar que as coisas
são o que são…
Eduardo Leal
Foto de autor desconhecido
Instruções de utilização: Ouvir “Cosmic mind affair” com Acqua Fragile
Cosmic mind affair – Acqua Fragile
Astronomical laws being filtred
Through a complicated gap
Operating like a coefficient
They become the laws of mind
Every planet is spinning along with
The vibrations of our brain
Mighty movements to each other related…
Our biology and independence
Cannot really set a course
Cause we are the incredible creatures
Of the brains on other worlds
Penetrating the windings of cosmos
We shall meet our cosmic mind
Their uniqueness has never been doubted
Oh! Isn’t that true?
Geometry’s always provided
Solved by time and point of view
And the oddness and quality of madness
Being the only things to frame
‘Cause our thoughts find their way to all
astros
Just like aliens fill our dreams
Mighty movements to each other related
Easy comes the story if you follow the scheme
Would you believe I’ve been in between?
In the gap was my body an incredible scene!
Our biology and independence
Cannot really set a course
Cause we are the incredible creatures
Of the brains on other worlds
Penetrating the windings of cosmos
We shall meet the cosmic mind
And that’s how I’ve been meeting P. Genius
Outer space man, human and a planet himself
Was holding (the brave fellow)
A circus style ombrella
Just for dancing safer on his path
Of virtuoso guy
The changing of the sun-light
Well, every planet has one
Drew a funny crest upon his head
As he began to speak to me
Well, madness ain’t a surface
On which somebody could stand
I would rather say it’s just a line
Around which we should stay
By walking on the mad thread
We all become rope-walkers
Move forward and backward like a toy
And than you’ll cross the universe!
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